sexta-feira, abril 27, 2012

Professor e risco de perder a voz.

Os professores são responsáveis pela transmissão de conhecimentos e experiências a um grupo de espectadores. Neste processo de transmissão de conhecimentos, um dos recursos mais utilizados é a voz. Este importante instrumento de trabalho, além de ser o veículo de transmissão de informações, também deve despertar confiança, autoridade e segurança, os quais irão influenciar diretamente no processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, é desejável que o professor tenha não somente um bom domínio do conteúdo a ser ministrado, mas também expressividade ao expô-lo.
A voz do professor é o seu principal instrumento de trabalho, ele necessita usá-la por vários dias por semana e vários meses por ano por muitos anos de exercício profissional. É uma das profissões com maior incidência em problemas vocais devido às condições de uso em grande parte inadequadas como, o uso constante, durante horas, intensidade elevada e competição vocal devido ao ruído ambiental. Os professores fazem parte do grupo de risco para disfonia (perda da voz) devido ao uso abusivo da voz e suas condições de trabalho.
Vale ressaltar também que a voz do professor é vulnerável tanto ao tempo e ao uso inadequado, quanto as condições de sua rotina de vida e trabalho, que normalmente apresentam situações com fatores de risco para a sua saúde vocal, como por exemplo, dos maiores causadores das patologias na voz são: falar virado para o quadro, aspirando o pó de giz, falta de ventilação adequada, que também gera um aumento da respiração de pó de giz, tentar sobrepor às vozes dos alunos, falar por muitas horas seguidas, sala de aula com grande quantidade de alunos (faz com que o professor tenha esforço extra da laringe podendo causar disfonias). A maioria dos professores não aquece a voz antes de ensinar, tem intervalo de descanso inadequado e toma pouca água. Como resultado, sérios problemas vocais.
Esses problemas são de fácil solução, desde que o poder público tenha vontade política para investir na saúde dos profissionais com simples ações (gastará menos do que com as licenças médicas), aquisição de quadros brancos e canetas próprias acabam com o problema do giz; salas menores proporcionam uma acústica melhor; a instalação de sistema de som para o uso de microfones, em salas maiores; fazer pausas para a voz e aumentar a ingestão de líquidos podem ser boas tentativas de melhorar a saúde dos profissionais.
É evidente que a luta pela sobrevivência numa jornada de trabalho quase sempre excessiva e as condições em que o trabalho se realiza, repercutem diretamente na fisiologia do corpo no qual em se tratando da saúde vocal, a maioria dos professores tem informações insuficientes com relação ao aparelho fonador e aos cuidados com o uso da voz. Fato que poderia também ser facilmente solucionado implantando nas grades curriculares de todos os cursos durante a formação acadêmica “uma disciplina específica” nas universidades, pois indivíduos que usam a voz em caráter profissional necessitam conhecer e saber utilizar seu instrumento de trabalho. Como não temos, é comum entre os professores, principalmente entre aqueles que trabalham os três períodos, chegar na sexta-feira com dor de garganta ou quase sem voz.. Vem o final de semana, volta na segunda-feira e pensa que a voz se normalizou. Pelo contrário, a situação tende a piorar.
Falo isso por experiência própria, porque num determinado período da minha vida profissional, precisei me afastar das minhas funções como professora mediante licença médica por três meses por problemas vocais. Quase fiquei sem voz, se não tivesse cuidado a tempo. Começava o trabalho na segunda com a voz normal e quando ia chegando na sexta-feira sentia dor na garganta e ficava quase sem voz. Isso se tornou frequente e eu pensava que era devido ao excesso de trabalho ou problema de garganta. Mas, com no fim de semana tudo se normalizava, me acomodei. Infelizmente, os finais de semana não estavam resolvendo, daí pensei que era a garganta e procurei um otorrinolaringologista, que pediu exames específicos e, para minha surpresa, não tinha nada a ver com a garganta em si. Então, fui encaminhada para um fonoaudiólogo, com o qual fiz várias terapias para poder voltar a trabalhar.
Portanto, colegas, não deixem se enganar pela rotina do dia-a-dia (achando que tudo faz parte) ficando atentos à voz, pois ela pode te dar sinais auditivos de que está sofrendo alguma alteração, que exigirá cuidados específicos, como falhas na voz durante as conversações do dia-a-dia, voz rouca por vários dias, muito cansaço (fadiga) vocal, diminuição do volume da voz, gerando esforço para conseguir falar um pouco mais alto ou gritar, voz mais grave (grossa) do que no início da profissão, pigarro constante, dor ou desconforto na área do pescoço, tosse seca persistente, ardência na garganta e sensação de corpo estranho e “bolo” na garganta. Lembrem-se: preocupar com a saúde da voz é preocupar-se também com a saúde em geral.
 Por Rosângela Fernandes Cadidé é professora há 10 anos das redes pública e particular, formada em Letras com Especialização em Recreação e Lazer pela Universidade Federação de MT, coordena o Centro de Estudos às Forças Armadas

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